Quando o sonho não vai embora — e eu também não

Há sonhos que não se apagam com o sol.
Eles ficam.
Rondam a casa.
Sopram nas cortinas.
Assentam-se à beira da cama e esperam.

Não exigem que eu os decifre imediatamente.
Não gritam por conclusões.
Só permanecem.

Como eu.

Hoje, não sei plantar flores.
Hoje, não quero inventar primaveras onde só há inverno.
Hoje, não sei desenhar futuros brilhantes — nem pretendo fingir que sei.

Hoje, só sei existir.
Só sei respirar devagar.
Só sei sentir essa tristeza muda, que não destrói, mas pesa.

E ainda assim, fico.

Fico porque entendo que, às vezes, a vida se faz no nada.
Fico porque sei que a terra também descansa antes de a semente brotar.
Fico porque até o céu mais azul já foi cinza um dia — e ninguém apressou o vento.

O sonho não foi embora.
E eu também não.

E talvez isso já seja amor: não desistir de mim, mesmo quando não floresço.

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