Ainda olho para cima

Hoje, 19 de junho de 2025, o mundo celebra o Corpo.

Tapetes se desenrolam pelas ruas, os sinos tocam, as janelas se enfeitam.
É Corpus Christi, dia da Presença.

E foi na calidez desse dia que me dei conta: a Ascensão do Senhor se perdeu.
Sumiu, discretamente, entre a cruz da Páscoa e o pão da Eucaristia.

Como se fosse apenas uma ponte litúrgica.
Como se não fosse essencial.
Como se o céu não tivesse sido, um dia, rasgado pela luz de um corpo glorificado.

Mas a Ascensão está lá — ainda que esquecida.

É o instante em que o Cristo não apenas ressuscita, mas retorna à luz de onde veio, levando consigo nossa humanidade.
Não apenas vive, mas se faz presença que abraça o tempo e o coração.
Não apenas parte, mas permanece, pelo Espírito, dentro e entre nós.

Sem a Ascensão, a fé perde o fôlego.
Sem ela, o Evangelho perde seu horizonte.
A missão da Igreja não começa.
O Espírito não é derramado.
A esperança não tem para onde olhar.

E eu, que hoje caminho entre sombras e luz, olho para o alto e vejo o Cristo que sobe — e que, subindo, me chama a viver com os pés no chão e o coração no céu.

E no mais íntimo, descanso no mistério: “Minha vida está escondida com Cristo em Deus.” (Colossenses 3.3)

Hoje é também o dia em que completo mais uma volta em torno do sol.
E talvez por isso eu tenha parado — não para olhar o tempo que passou, mas para lembrar que a vida verdadeira está onde Ele está: entre o invisível e o eterno.

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