Empréstimo
Não tenho todos os amanhãs —
apenas este:
o sol que corta a janela,
o café que esfria,
a conta paga,
o riso que escapa na ponta dos dedos.
Amanhãs são moedas falsas.
Só hoje é câmbio certo:
o pão mordido,
o nome dito
a prece aflita,
o sim que não esperou
pelo momento perfeito
(que não existe).
Se a morte é silêncio,
então a vida é isto:
o barulho do sapato no chão,
o joelho doendo na descida,
o "te amo" engasgado,
o projeto inacabado —
tudo o que cabe no agora.
Acordei com um número a menos no saldo de amanhãs.
Não houve notificação: a vida é cobrança sem promissória.
No supermercado, uma criança grita por um doce.
A mãe diz: "Depois!".
Eu penso: "Ela acredita...".
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