Entre o ser e o fazer
E se o que me resta — e me salva — for só ser?
Não crescer, não conquistar, não impressionar, mas acordar em paz.
Sentir o vento batendo na varanda do corpo e saber — profundamente — que estou viva, mesmo sem grandes arroubos.
Há dias em que o "fazer" pesa como armadura.
Então me lembro: o ser é o barro que molda todos os verbos. É o que sobra quando tudo passa.
Como o céu que permanece, mesmo quando as nuvens partem. Mas o céu, sozinho, é um vazio sem forma, até que as nuvens o desenhem.
Ser sem fazer vira lago parado.
Fazer sem ser vira deserto.
Talvez a vida seja isso: um exercício diário de tradução entre essência e expressão.
Ser é a água.
Fazer é o curso do rio.
E o humano… é a margem onde o mistério escorre, onde a pergunta vive: "Somos o que fazemos ou aquilo que subsiste em nós, mesmo quando nada fazemos?" — talvez sejamos apenas esse entrelugar.
Clarice sussurra: "Eu quero é o impossível de ser."
E eu compreendo... Porque ser é o que não se mede.
E se meu maior sonho não for realizar, mas respirar com verdade?
Ser solo fértil, não folha agitada.
Ser travesseiro, não almofada.
Então eu sou: sem pressa, sem alarde, sem plano. E isso, talvez, seja o mais raro dos crescimentos.
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