O viajante que tocou o Princípio
Ninguém soube explicar como ele partiu — apenas que, num instante que não se pode medir, ele já não estava mais aqui.
Transportado não por qualquer aparato de deslocamento temporal, mas por um chamado inaudível, ele foi levado para antes das palavras, antes das formas, antes do tempo contado.
Ele estava lá.
No princípio.
Mas o que significa "estar" quando não há espaço? O que é "agora" quando o tempo ainda engatinha?
Era como flutuar dentro de um suspiro divino, espesso, incandescente.
Um calor sem origem.
Uma luz que ainda aprendia a brilhar.
E, ainda assim, havia trevas.
Não a obscuridade do medo, mas o negrume do pano de fundo onde a beleza ainda seria bordada.
Não a obscuridade do medo, mas o negrume do pano de fundo onde a beleza ainda seria bordada.
Então, ele ouviu: "Havia trevas sobre a face do abismo..." E o Espírito pairava... como intenção viva.
Ali não havia religião nem nome. Só o desejo de Deus de ser visto, de dividir-se em estrelas, poeiras, sementes e olhos.
O viajante tentou falar, mas a voz não se formava.
Lá, o tempo não andava — pulsava.
Tudo era começo e continuação.
Ali, o "Haja" era um sussurro santo, e o Universo, um templo em erupção.
O viajante voltou marcado, dizendo a todos que cruzavam seu caminho: "Vi o abismo, senti as trevas e percebi que, antes de tudo, o Amor já pairava sobre eles."
(Continua...)
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