O Nome e o Vocare

(Continuação de “O viajante que tocou o Princípio”)

Ali, onde a luz hesitava entre expandir-se ou recolher-se, o viajante compreendeu: não estava só.

Não havia trono nem rosto, mas havia presença: viva, densa, sem contorno.

Era como se o próprio tecido do Universo respirasse lenta e profundamente:

Y… H… W… H

O Nome, se pudesse ser dito, soaria como o fôlego que antecede o Verbo. 

Então, Ele pronunciou o vocare primordial, onde o não ser ouve e se torna.

"Você veio até o que nunca deixou de ser. Aqui não há ontem nem amanhã — há apenas o eterno tornar-se."

O viajante quis perguntar, mas toda pergunta já era sabida. Toda dúvida, absorvida.

"Não temas as trevas do princípioO caos é o primeiro altar. E Eu estava lá, pairando antes da forma."

Então, EU SOU chorou.
Mas ali, o choro não era queda do ser-para-si — era criação.
Cada lágrima desenhava uma estrela.
Cada suspiro acendia um novo tempo.

YHWH sussurrou outra vez: "Você voltará. Não levará imagens, levará fragmentos do inefável. E não terá respostas, mas se tornará uma pergunta viva. Pois quem me viu no princípio jamais poderá olhar o mundo do mesmo jeito."

E o viajante compreendeu.
Sua missão não era contar o que viu, mas habitar o que sentiu.
Permitir que sua vida carregasse sibilos do inaudível e elocuções do indizível.

E que, ao seu lado, outros também desejassem tocar a Luz que desperta o informe.

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